“Não existe uma sociedade sem drogas,Antes de mais nada devo dizer que não sou muito afeito à legalização de qualquer tipo de droga, até mesmo a maconha, não por ser retrógrado, mas pelo simples fato de achar que nossa sociedade – a dos brasileiros – não tem ainda um nível estrutural e intelectual para suportar um revés de tamanha amplitude, diga-se de passagem, que nosso jovens além de imaturos, são inconsequentes, com pais cada dia mais permissivos e escolas cada vez mais frágeis. Qualquer mudança, antes, deve passar por mudanças nestes aspectos, para daí optarmos por outras investidas. Só que essa opinião não inviabiliza o debate…
nunca existiu e, provavelmente, nunca existirá”
Departamento de política antidrogas da França.
De qualquer sorte, tive a oportunidade também de ver sob outro prisma o fator drogas. Tudo por conta de um filme/documentário de 2007, The Union: The Business Behind Getting High – livremente – O Sindicato: O Negócio Por Trás do Barato (assista abaixo). A história se passa no Canadá e o diretor/roteirista Brett Harvey (creio que ele deva ser um apreciador do cânhamo…) narra com maestria e fundamentação os porquês do comércio ilegal da maconha e o negócio gigante ($ 7 bilhões de dólares anualmente apenas no Canadá) que movimente essa proibição, ao menos nos países da América do Norte.
O documentário aborda de forma lacônica os princípios, políticas e meandros dum passado que ao seu dispor ora classificava a maconha como “uma droga poderosa e perigosa”, ora considerava livre e comercial, atribuindo-lhe até como um dos mais importantes “commodities”, incentivando o cultivo (nunca soube desse fato [?]).
É o que se extrai ao assistir o documentário, que mostra como o governo americano reviu seu posicionamento durante a II Guerra Mundial, decidindo que a Cannabis Sativa não era tão maléfica assim e poderia ser plantada, cultivada e comercializada (nos seus derivados). Com a eclosão da Guerra do Vietnã tudo mudou, então o tal cânhamo torna-se ilegal outra vez, mesmo com estudos médicos afirmando que não havia efeitos negativos. O mesmo que acontece com a cafeína hodiernamente, onde existem dezenas de estudos provando seus malefícios e uma outra dezena provando seus benefícios.
Outro ponto bastante elucidativo é a formação do preconceito e a pecha atribuída aos pobres e pretos de maconheiros, já que o filme mostra que uma das formas de incentivar o abandono dessa “cultura”, passou também pela ‘política racial da mídia’, que atribuía efeitos maquiavélicos e pejorativos aos negros e latinos que consumiam a maconha, imagina-se o efeito de tais notas e manchetes numa população “branca” e preconceituosa como a norte-americana…
No filme aborda-se um pouco do muito que já lemos aqui no Abordagem, os efeitos danosos, o negócio multimilionário que há por traz; e a opinião impresumível dos traficantes em uma possível legalização, o desenfreio do consumo apenas pela proibição, a comparação com o álcool tanto no que tange a nocividade, como a proibição e o efeito “Lei seca”, o gasto da segurança pública e da justiça na manutenção da proibição, o feito “Porta de entrada”, entre outros.
Mesmo com uma propensão apologista, o filme serve como ingrediente reflexivo e levanta o debate, coisa que os EUA nem cogitam fazer, aliás, nossa política é baseada na política deles; e os efeitos são os mesmos? Os interesses idem? O que o capitalismo faz deste consumo? Pois no consumo de drogas legais ele já se instalou e tornou-se o padrinho-mor, é assim também com as drogas ilegais? Vai saber…
O documentário mostra também como o cultivo caseiro acima dos trópicos se transformou em um negócio multimilionário. E entrevista historiadores, escritores, estudiosos, cientistas, policiais, representantes do governo, cultivadores e celebridades dos EUA e Canadá (muito provavelmente todos entusiastas da “erva”), analisando a causa e efeito da natureza do negócio – uma indústria que pode lucrar mais se permanecer ilegal(?). O que você acha?
Só tenho uma certeza, o debate deve prevalecer, em qualquer assunto, forma, negócio, seja o que for, drogas, aborto, armas… O que não dá pra aceitar é varrer o assunto para debaixo do tapete, por opiniões pessoais, religiosas, comerciais, preconceituosas etc. Tudo que recai na sociedade, dever ser estudado, pesquisado, debatido, debatido e debatido; despido de pré-concepções ou ao menos vestido do que pode beneficiar quantitativamente e qualitativamente nossa sociedade no todo.
*Ewerton Monteiro é Policial Militar, graduando no bacharelado de Ciências Jurídicas da FAT – Faculdade Anísio Teixeira – e graduando em Licenciatura em História na UNEB –Universidade do Estado da Bahia.
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